terça-feira, 13 de abril de 2010

ANA

"When I was young
It seemed that life was so wonderful
A miracle, oh it was beautiful, magical
And all the birds in the trees
Well they'd be singing so happily
Oh joyfully, oh playfully watching me
But then they sent me away
To teach me how to be sensible
Logical, oh responsible, practical
And they showed me a world
Where I could be so dependable
Oh clinical, oh intellectual, cynical
There are times when all the world's asleep
The questions run too deep
For such a simple man
Won't you please, please tell me what we've learned
I know it sounds absurd
But please tell me who I am"


Diz o Art. 5º, da Constituição Federal: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;(...)"

Uma vez, uma amiga disse que eu tinha preconceitos. Como ela é uma das amigas que pode dizer tudo, aquilo me tocou profundamente. Ela tinha razão. Eu tenho pré-conceitos e preconceitos solidificados em razão do tempo. E resolvi , daquele dia em diante rever muitas atitudes minhas. Perdoei certas mágoas que não via razão mais de continuarem.. como relatei, aqui, em 2008.

Foi por um acaso da vida que me fiz acreditar que essa igualdade eu havia aprendido na sala de aula, na matéria de Constitucional. Pode-se chamar de uma visão repentina jusnaturalista as linhas a seguir... eu chamarei de amor incondicional.

Nestes dias cursando o tão sonhado "cursinho para carreiras diplomáticas", descobri algo (antes de forma tardia do que nunca), que nenhum professor poderia ensinar, ou que cairá numa prova do seletivo: querer ser diplomata é uma tentativa quase que impossível de abraçar um mundo, um universo de ideais, de respeito a dignidade do outro, do reconhecimento de igualdade num outro indivíduo que está do outro lado do Atlântico... Mas não é sobre essa igualdade que venho tratar, e sim de algo mais próximo, sem precisar atravessar oceanos. No entanto é preciso deixar de lado, certos receios que tornaram este fato intocável, talvez um abismo de verdades não ditas, que conforme o tempo, vão se tornando assuntos proibidos, pecaminosos, e por consequencia críticas veladas de pré-conceitos um tanto errados.

Antes mesmo de um dia eu ler na nossa Carta Fundamental, minha mãe lia nos evangelhos de domingo a noite: "amai o próximo como a ti mesmo", não me esquecendo é claro, do próximo mais próximo. Aquela menininha que sentava sobre o muro da Avenida dos estados, sem os vícios de vivência, conversava com qualquer um que passasse na rua (Sim! Minha mãe pode confirmar a história). Quando somos crianças, somos de uma sinceridade ferrenha, mas sabemos amar uma pessoa, quaisquer que sejam suas escolhas de vida, simplesmente, porque esta pessoa nos faz bem, nos faz rir.

Existem diversas pessoas que me consquistaram durante minha vida, mas dentre todas quero falar só de uma, talvez porque seja ela quem mais esteja precisando saber seu lugar no mundo.

Eu a amei porque era assim que era para ser, questão de espíritos afins! Talvez porque dançava Radio Pirata comigo no colo, ou locava filmes quando eu pedia, ou sempre tinha uma música de um de seus cantores preferidos que mais se adequava a minha alma de adolescente rebelde sem causa... Hoje eu canto Logical Song não é a toa.. acho que minha rebeldia piorou de uns tempos para cá.

Foi num dia normal, eu estava sentada de cabeça para baixo no sofá, na casa da vovó, quando me toquei, que minha tia tinha sempre amigas. E perguntei a mamãe, eu fui a ultima a entender que minha tia era lésbica, e juro que foi aos 13 anos de idade. E minha mãe ficou com uma cara atônita de quem pensava "nossa você nunca percebeu antes". Não, eu não tinha. Alguma coisa mudou? Não, nem um pouquinho. Nem mesmo aquela falsa humildade, "por ela ser diferente vou ama-la mais". Não, nunca foi diferente!

Talvez o sentimento exagerado seja por total merecimento dela. Porque ela cativou e cuidou com carinho.

Não vejo ainda razão para ainda muitos taparem o sol com a peneira, e não fazer essa igualdade valer a todos. Sem demagogia! Antes mesmo de encher o peito e gritar "Todos são iguais perante a lei" ou sair vestindo uma camisa colorida, fazer crescer um sentimento sem preconceitos dentro daquela instituição primeira que chamamos de família.

É na família que qualquer pessoa busca apoio e deseja ser amada, porque antes de tudo, de ser filha, tia, irmã é alguem como eu que luta, sente, sofre, ama e principalmente sonha... e é tão dolorido quando nossos sonhos nos escapam pelos dedos, e nós na ânsia de tê-los ainda realizados, ao invés de um silencio confortador ouvimos coisas que não precisamos. Antes de ser amor de Dona Carla, é humana...

Não sou perfeita... ainda tenho pré-conceitos e preconceitos a serem reavaliados... mas nunca duvidei do que senti a respeito disso tudo. E sei que Tia Ana também não. Mas é que ela precisava saber mais uma vez, e de forma clara... que é para mim um exemplo de vida! O que seria de mim sem tais valores...

4 comentários:

Unknown disse...

Nay, orgulho-me de ti, pelas palavras verdadeiras e mais ainda por eu ter percebido que te ensinei algo, passei valores, principalmente, amar o próximo, respeitar os limites do outro e as "diferenças" que só existem na cabeça dos pequenos, afinal a essência está na alma. Ana merece esse teu carinho. Lindo de tua parte.

Nathália disse...

Só quem teve a grata satisfação de conhecer sua tia Ana (e eu fui uma das sortudas...risos) sabe do ser humano maravilhoso que ela é. Quantas gargalhadas regados a boa música e carteado hein. Bons tempos né Nay?! Eu sempre me lembro dela com muita alegria. Bom, no fundo essas diferenças só existem na nossa cabeça e só nos distanciam das pessoas.
Legal da sua parte prestar essa homenagem a ela.

Bjs

ARCACC disse...

Ficar chateada com tudo isso??? como Nay Nay...???como posso??? perceber que a minha garotinha do "boinho" é grande ..grande...
Pra mim é uma honra te ter como uma pessoa muito muito importante na minha vida.
Falar da minha vida..falar de mim...puxa!!! e falar com tanto carinho...percebeste aos 13??? rssssssss só tu mesmo!....Estou emocionadíssima com tuas palavras...já li...reli...chorei e o que posso te dizer???
Muito Muito Muito Obrigada Nay Nay
TE AMO MUITO

LiA caRoL disse...

De um modo geral, o ponto de partida do preconceito é uma generalização superficial chamada estereótipo (os rótulos), e estão impregnados em nós como paradigmas que são e tudo que foge do que é imposto acaba sendo visto com maus olhos, e o que é diferente acaba sendo alienígena. Mas nem sempre existem culpados por existirem tais preconceitos eles são resultado do sexismo da sociedade, mas nos tornamos verdadeiramente culpados quando ao identificarmos o quão negativos e afastadores eles podem ser não mudamos nossa atitude pré-concebida por simples aceitação, ou pior, por concordância e aí passa a ser irracional e escapa de qualquer questionamento fundamentado no argumento ou raciocínio. Mas quando assumimos o quão suscetíveis de erros somos, como você fez ao reconhecer seus pré-conceitos, mudamos de lado nessa briga e passamos a entender que podemos ser iguais na diferença, e mais ainda, que amor é assexuado e totalmente desprovido de conceitos. Tenho uma família recheada de homossexuais, gays, lésbicas e até indecisos... E sei bem que o preconceito existe e que pra eles nunca é fácil perante a sociedade, mas a família deve ir além disso... e mais, o respeito deve sempre superar seja lá quais forem as diferenças. Então a simpatizante aqui diz de coração: Parabéns pela aceitação e pela tia (rsrs)!!!