quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Retratos e Fantasmas


Ao som de Padam Padam de Piaf

Lá vem Cecília com seus retratos debaixo do braço tentando convencê-lo que ele poderá enquadrar-se em algum deles. Foi inútil ele dizer-lhe que fantasmas resolveram aparecer conforme o sol surgisse ou as cortinas se fechassem, pois ela não fazia intenção de ouvi-lo.
Ele estava de mãos atadas, não poderia forçar o tempo parar, ou correr mais rápido, afinal fazia pouco tempo que ele e o tempo haviam feitos as pazes, não se perdoaria se tivesse que passar o resto da vida a tomar chá das 17h a todo o momento... e ver a vida passar bem debaixo de sua janela, sem nada poder fazer.
Resolveu fugir da impertinente companhia de Cecília e seus retratos... e tantos retratos... Pulou a janela e acabou por dar de encontro com um doido varrido, convidando-o para lutar contra terríveis moinhos na saída da cidade. Pensou por um milésimo de segundo o que poderia ganhar comprando tais brigas... Um Estado, que o totalizaria, que quando se cansasse pediria a independência de si! Um país, onde ele poderia ordená-la a andar sempre nua... nua de seus artefatos, de suas malícias, de suas maquiagens, de suas infantilidades...
Mas aquelas histórias e todos aqueles fantasmas lhes perturbavam... lhes pareciam tão patéticos, quanto aquele pobre rapaz que não se agüentou e arrebentou os miolos quando do seu amor não correspondido sabe-se lá por qual ardil moça das redondezas... Mesmo gostando das idéias de “um mundo” daquele rapaz, ele soava tão patético... tão... Se amor, para alguns, é vida, estaria ele se matando aos poucos por estar se recusando amar qualquer pessoa que não seja a. Detestaria se tornar patético a ponto de.
Decidiu não comprar briga alguma, nem lutar por nada que levasse aos “ismos”, preferiu sentar-se no muro e manter-se inerte... Afinal, alguém por aí disse “que el revolucionario verdadero está guiado por grandes sentimientos de amor..”. Mas não estava mesmo interessado em grandes revoluções, apenas em seu egoísmo.
Este anti-herói, de quem vos conto a história, não queria, nem pretendia amar de novo... mas andava tão à flor da pele que qualquer dança no gelo o faria chorar... e isso o tornaria patético...
Ele numa tentativa, agora, de “fugir-se”, voltou a sua torre de marfim, abriu a porta da estante na sala e tirou de lá uma caixinha e nela os vários retratos que havia tirado por todos esses anos... Murmurou baixinho lamentos para que Cecília não ouvisse... Preferiu ter feito aquele pacto... sua história não teria sido patética, mas macabra como a de Gray... ou poderia ter feito brotar de suas veias sangue de barata, naqueles dias confinados na sua própria torre, pois ouviu num dia qualquer alguém esbravejar que pessoas com sangue de barata não sentiam... não sofriam por amor...
-Ah! Eu sabia Cecília, estes retratos falados, só poderia ser idéia sua! Devia ser presa por disseminar idéias, pela quais agora, ando obcecado! – suspirando quase que dormindo – Se não fossem esses fantasmas... Padam... Padam... “Mes vingt ans font battre tambour...”

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