Aqui está tudo bagunçado... como meu espírito...
Vou sentir falta de mentir para a minha avó para brincar na rua... de voltar com o joelho ralado mas com o coração feliz... das lembranças que tenho do Dino e de como ele me salvou quando eu prendi o joelho no portão de madeira da casa da vovó... De quando ríamos escondidos da vovó quando quebrávamos um pato da estante dela... de sentir medo das estórias fantásticas do amazonas do vovô... e de como ele falava “ô jequeri”...
Vou sentir falta das vezes que sonhei com um quarto só meu, onde eu poderia espalhar meus ursos de pelúcia e minhas bonecas, que ficavam guardadas sem eu poder brincar... Vou sentir falta da risada de quando eu peguei a minha bola roxa escondida e brincando estourei na rua...
Vou sentir falta dos caldos que papai fazia no “Tô à Toa”, eram sempre “de arrebentar a boca do balão”... e do cheiro das orquídeas que floriam e que ele trazia para dentro de casa...
Vou sentir falta do cheirinho da lasanha que mamãe fazia... e da simpatia que eu e a Lola fizemos para as visitas irem embora, para assistirmos Dança com Lobos, comendo lasanha e de sobremesa brigadeiro... Será que jogar sal para fora de casa espanta visita?
Vou sentir falta de dar voltas no campo dos freis de bicicleta, e daquela vez que todo mundo foi me ver e eu fui dar um tchauzinho e caí me ralando inteira... eu tinha acabado de aprender a andar... E se a princesinha do Paraguai é a Capital das Bicicletas, nunca pertenci de fato a região, porque sempre fui barbeira...
Vou sentir falta da Tia Maria do cachorro quente... E da praça cheia de crianças... de quando eu me sentava no chão para conversar com os hippies nos festivais... das largadas nos domingos... das vezes que sentei à beira do rio, para escrever, pensar, chorar, namorar, fumar um cigarro escondido... Vou sentir falta da Praça Duque de Caxias, e de quando lá os flamboyants florescem... E do bêbado que sentava no mesmo banco que eu...
Vou sentir falta de quanto era bom cantar Vamos Fazer um Filme nos corredores da escola, e quando fazíamos competições de cantar Faroeste Caboclo sem errar... E o Saulinho sempre cantava direitinho... De quando fugíamos da sala para ouvir Jon Bom Jovi cantando Jane don’t take you love to town... e quando a Naty chorava por causa do Lu no banheiro... das vezes que eu tive vontade de arrancar os cabelos da Aline quando ficávamos de mal... e das vezes que fazíamos as pazes e escrevíamos bilhetinhos toda semana... De como era engraçado rir das piadas da Gra... De como era bom ser rebelde com a Flavinha... de pedir um pedaço de maçã para a Nathália... de dividir o cachorro quente nas sextas-feiras com quem pudesse... de como era legal ler Romeu e Julieta com o Rodrigo... Vou sentir falta do formigamento na barriga quando eu passava por certa sala... e quando via o Gui no corredor... dos jogos da escola e de quanto aposentei meus tênis e virei torcedora, porque era uma negação em esporte..
Vou sentir falta dos almoços nos domingos na casa do Tio Marcos e da Tia Rita... de quando o Rafinha ficava lá em casa... da vez que tive de colocar Mogli e dançar como os elefantes para fazer ele comer a pêra... de quando íamos tomar banho de piscina e ele pedia um “exagelado”... dos domingos na casa da Tia Dê... de quando o Kauê estava aprendendo a tocar violão, e o Tio Marcos pedia “Do seu lado” e errava toda a letra... de quando decidimos aprender a dançar forró... e das festas juninas na nossa casa... da vez que casei com o Saulinho, com um vestido de noiva lindo... e de como o Rô deitou no meu colo...
Vou sentir falta das festinhas em casa... das milhares e milhares de garrafas de cerveja... e de como às 3h da madrugada nos sentíamos, Chico, Vinicius, Elis, e até nos apresentávamos como Os Tribalistas... E o que falar da nossa fase Pink Floyd? Das vezes que o Saulinho ligava na minha casa e dizia que era Marcelo e que “tinha me visto na praça e tinha me achado gatinha, e que estava mó a fim de ficar comigo... Da vez que ri na cara do meu futuro namorado quando ele disse “que estava mó a fim de ficar comigo”. De quando apagávamos as luzes da área e sentávamos no fundo do quintal para olhar as estrelas... e contávamos estrelas cadentes... ouvindo Summertime com a Janis... De como choramos ao sentir que a escola estava no fim... e que todos iríamos para um lado... até descobrirmos que existiam as férias e a saudade era forte... e ainda pudemos reinventar a amizade por 6 anos e diversas vezes... quando brigávamos e pedíamos desculpa em seguida...
Essas sensações de 23 anos, têm estado aqui... É como se todas lembranças armazenadas, após serem lembradas... e sentidas... Deveriam ser guardadas num baú... Vou levá-las na mudança...
O que intriga é que tenho certeza do que passou... e do agora... apesar do medo do amanhã... esse nunca me fez tão bem como agora... Ir embora é aceitar que isso tudo realmente passou... e que papai não está mais aqui... E que a identidade dessa menina que fui aqui... fica aqui...
Estou suspendendo por um tempo os posts aqui. Minha vida está como a sala bagunçada de livros daqui de casa... meu quarto nem existe mais... daqui uns dias vou ter de enfrentar algumas burocracias, em meio a estudos... o concurso em janeiro... o conflito de passar pelo exame da ordem ou não? E em 27 dias tudo poderá acontecer... e ainda o sentimento de que desde que ele se foi já faz quase um ano... Voltarei apenas para desejar-lhes um bom final de ano...
3 comentários:
Agora seque minhas lágrimas. Como é difícil reviver tudo o que passamos e arrumar coragem pra enfrentar os próximos obstáculos. Simultaneamente a saudades de quem ñ pode mais dar um abraço de incentivo.
Força. É tudo que posso te dar.
Passarinho passarinho, não tenha medo não.
Voa alto, sai do ninho.
Abre as asas, ganha o mundo, e deixa o mundo te ganhar. Agora, você vai fazer o seu caminho. Com todas as coisas que já te deram, você vai construir o seu ninho e vai nutrir muitos outros passarinhos.
Torcendo.
Beijos
A bagunça do bem, para o bem, o próprio bem...
Carinho, Flor.
Continuemos...
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