sábado, 13 de setembro de 2008

Esse pileque homérico no mundo...


"De que adianta
Ter boa vontade
Mesmo calado o peito
Resta a cuca
Dos bêbados
Do centro da cidade..."

E não é que a minha inspiração voltou... mas ainda estou terminando de escrever o que eu iria postar hoje... tive vontade de falar sobre uma outra coisa aqui... E sendo assim, mais uma vez de volta no tempo...

Eu deveria ter de 10 a 12 anos, não me recordo bem, e sempre gostei de brincar na rua, apesar da minha avó nunca deixar eu sair de casa, eu mentia que a minha mãe deixava eu sair e ia pra rua brincar com meus amigos daquela época.

Eu morava na casa da minha avó, que fica ao lado de um colégio, e o portão deste ficava, as vezes no fim de semana aberto, e quando não ficava, nós pulávamos o portão, para brincar no parquinho que tem até hoje lá.

O colégio era dirigido por um grupo de freis, então, sempre iam pessoas pedir comida, ou roupa por lá. Pessoas bem humildes. E num desses dias que o portão estava aberto, eu, a minha amiga de infância e o irmãozinho dela, entramos para brincar. E ao entrar, vimos que tinha um senhor, mal vestido, e que parecia que estava bêbado, sentado em um dos bancos perto do parquinho.

Eu fiquei com medo de ficar no parquinho, sei lá porque, talvez seja, pelos tantos avisos: "cuidado com estranhos", ou "cuidado com o homem do saco que leva criancinhas"! Enfim, acho que foram tantos avisos, que até hoje ainda tento me livrar de alguns.

E então, ficamos jogando bola, bem longe do "senhor maltrapilho". E eis, que eu estava de costas para ele, e no que eu não consegui segurar a bola, ou rebatê-la, ela foi parar perto daquele senhor. Eu fiquei assustada, para não dizer que o preconceito tinha me tomado conta. (Acho que eu deixei de ser criança muito cedo, pois aos 7 eu já não acreditava em papai noel, futuramente conto esse trauma, rs...) Não tinha nada que me fizesse ir buscar aquela bola, e aí a minha amiga foi buscar. Mas o pior de tudo, foi que o senhor percebeu, que eu havia ficado com medo.

E então disse: "Olha menina, eu não sou animal! Sou gente também! Não precisa agir dessa maneira com as pessoas! Sou gente também"

Apesar, de eu não me lembrar ao certo quantos anos exatos eu tinha, mas aquilo me doeu profundamente, e acho (acho não... tenho certeza), que até hoje reprovo tal atitude, as vezes penso que era melhor eu pensar que eu era criança mesmo e não entendia que o mundo não é perfeito, e que existem pessoas no mundo que não tem oportunidades ou até mesmo não sabem lidar com as mesmas, ou quando sofrem alguma decepção, não são fracas por não saberem dar a volta por cima.

Depois de anos, fui entender, ou pelo menos tentar entender, o porquê daquele senhor estar daquela forma. E assim, como tantos outro bêbados que passaram pela minha vida, que encontrei nas praças... e até mesmo bem perto...

Bem, aos 15 anos tinha uma mania... eu adorava ir escrever... mas em um lugar que considerava especial ( ainda considero), mas é que ando tão sem tempo de ir lá... e olhar as crianças brincarem... eu ia na "Duque", uma praça aqui, nessa minha "imensa" cidade, lá tem bancos extensos, feitos de concreto... E numa dessas vezes, eu acordei bem cedo e fui a "Duque"... e eis que no mesmo banco que eu, senta um senhor, que não tem onde morar, e carrega sua casa nas costas...

Eu estava escrevendo uma carta, uma das que não costumo mandar, e passou uma senhora idosa, me deu bom dia, sorriu, e fiquei a observando enquanto passava. Ela passou pelo andarilho e desviou o seu percurso, como se ele tivesse lhe feito algum mal. Sendo que não lhe fez mal algum. E na hora me lembrei daquele dia no parquinho. Duas pessoas diferentes, dois momentos diferentes, lugares diferentes... mas só aí eu fui realmente entender... eles têm sentimento também. Talvez, fique um pouco difícil compreensão, mas o que posso dizer é que tive experiências péssimas com bebida na família... mas só a partir desse dia é que fui entender... que o "monstro", não o era! E se era... havia um motivo! Havia uma fraqueza, algo que o consumia... e ele, não por ser fraco, mas por optar descarregava tudo daquela forma... foi aí que vi o quanto eu amava e entendia meu pai....

E assim, escrevi:

O bêbado

Somos todos bêbados,
sem rumo, sem vida...
nessa doentia viagem...
onde só há ida!
Felicidade é somente miragem,
nesta mórbida loucura,
que se chama vida!
Somos todos loucos
normais são os poucos.
Normais que só amam a vida,
mas que não se amam...
e se dizem eternos amantes...
de um amor inexistente!
Mesmo que não bebamos hoje...
somos bêbados de tanta infelicidade,
por tudo sentir saudade...
até de nossa vida passada!
Sei que devo ficar calada, mas não!
Foi sim! Naquela vida!
Em que tínhamos esperanças...
éramos apenas crianças,
hoje adultos bêbados sem lar!
(Duque, 16.06.01)

Bem, a ultima experiência que tive, com algum bêbado, foi ano passado, em uma cidade histórica, próxima aqui, em que estávamos em um grupo de amigos e vários senhores andarilhos sentados conosco, declamando poesias e falando sobre o "carpe diem", na praça. E foi nesta madrugada, que acredito que lavei a minha alma, quase apanhei de uns rapazes que estava lá perto, jogando guardanapos de papel em fogo em um senhor bêbado que estava sentado em um dos bancos. Quando vi aquilo, fui lá e comecei a brigar com os caras que estava fazendo tamanho absurdo! Minhas palavras: "Parem! Pois ele também é gente!

Bem, um momento de desconcentração. Estou me sentindo muito lisonjeada hoje! A Lekkerdingme deu um selinho! Eis o presente e as instruções:




Regras a cumprir:
1. Aceitar exibir a distinta imagem e cumprir as regras.
2. Linkar o blog do qual recebeu o prêmio.
3. Escolher quinze (15) blogs para entregar o Prêmio Dardos.


Bem, dois dos blogs que indicaria já indicaram e como a intenção é compartilhar e não acumular, indico:


Latrino Americano, Descascando a vida e sujando a avenida, Noite Lisérgica, Além das Palavras, Janela e Vitrine, Uma Rosa e seus poemas,

As Flores do meu caminho, e para a Strª Dorothy, a qual não posso publicar o endereço... rs..


11 comentários:

Marco disse...

Morena, suas palavras me transportaram para aquele parquinho, para aquela praça "Duque". Me tocou bastante o tema, a situação, sua percepção e o link com o teu pai. É algo para se ler e refletir. Beijos.

NayB. disse...

Primeiramente, obrigada pelo selo! =*

Muitas vezes esses bêbados de rua usam a bebida para preencherem aquele vazio que tem em suas vidas, para lhes fazerem não sentir o frio e a fome que os acompanham... Adorei o poema. E o post também!

Xerus
=***

Girl disse...

Oi,

Tudo bem?
Sabe que esse post me fez pensar...?
Eu mesma, que também tive experiências com a bebida na família, me desvio daqueles maltrapilhos na rua.
Não é nada, não me vem a mente nenhum pensamento, mas parece tão automático.
Entede?
É que quando era meu avô parecia ser diferente, porque afinal... Era o meu avô.
Mas lendo este blog, pela primeira vez, percebi que você tem razão: não importa se eles moram na rua, mas também tem sentimentos, também não gostam de ser desprezados, de serem maltratados deste modo.
Tentarei mudar minha atitude em relação a este aspecto.

Beijos,

Girl

Lily disse...

mto interessante o post!
só qndo a gente consegue ultrapassar essa barreira q a gente cria desde criança, pra vermos o qnto essas pessoas podem ser!

e às vezes elas demonstram isso apenas com um pequeno gesto nosso! nem é preciso mto...

bjksss

Candy disse...

Perfeito texto!
Uma lição que vc realmente aprendeu.
eles são gente sim!!!!

Fiquei com o coração apertadinho com essa historia, sabia?
:(

Adorei o selinhoo!
brigada
:D

;************

NayB. disse...

Passando pra desejar um ótimo fim de semana!

Xerus
=***

NayB. disse...

Que bom que você gostou da nova "roupa" do Janela & Vitrine! ;D

Xerus
=***

nd disse...

Oi ! peguei teu link lá em janela e vitrine, legal aqui.
Bjs

Iana disse...

Sementes no chão, nasce e cresce emoção
Um jardim sem flores não é jardim
O meu é, e, floresce a cada dia, mesmo estando ausente
Minhas maravilhosas flores me enchem de alegria....

Amigos (as) O meu muito “Obrigada” por fazerem parte desse meu lindo e encantado jardim, e por terem o regado sempre enquanto estive ausente... Ao ler os vossos recados, deixaram-me alegre e feliz.

Passei por dias difíceis, (saúde) é, a saúde dessa vossa amiga não anda lá muito boa e é por isso que as vezes preciso de me afastar.

Tenho dias que não consigo estar por cá e dar a todos os amigos leitores o carinho que tanto merecem, receber dessa vossa “Rosa Amiga” o cuidado, dedicação, amizade, carinho e atenção.

Venho agradecer a todos pelo carinho, apoio, dedicação, atenção e amor pelo meu espaço entre as flores e pela minha pessoa. “Obrigada”!

Estou voltando aos poucos, e espero mais uma vez a compreensão de todos se caso eu demore a responder ou visitar-vos, espero estar bem para então voltar a dar o melhor que sei dar a meus queridos (as) amigos (as)...

Beijos doces dessa sempre
Rosa amiga
Iana!!!

PS: Obrigada pelo selinho, vou tentar colar para meu blog, não garanto de acertar... :(

Gabriela Martinez disse...

INfelizmente eu não sei diferenciar os bêbados dos malucos...mas procuro ter o máximo de discrição.
bjosss

nay disse...

Pois é pessoal... vivendo um dia de cada vez...